quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A internet como alienação subjetiva na perspectiva do lazer, prazer e, portanto, da liberdade?


Na atualidade costumamos associar o conceito de internet com lazer e algo que nos proporciona uma liberdade de estudarmos e, portanto conhecermos as coisas. Ora, mais o que é lazer? Etimologicamente a palavra lazer vem do latim Licere, que significa folga, descanso e aquilo que é lícito, portanto permitido. É uma “utilização do tempo livre” existente no intervalo entre um trabalho e outro, livre das obrigações familiares, profissionais, sociais, políticas e religiosas. O homem quando pode fugir dos aborrecimentos cotidianos, divertindo-se, fazendo algo que ele gosta e que lhe interessa sem imposições, portanto algo associado ao lúdico do latim ludere que origina ludos e, portanto, também um entretenimento que pode ser inteligente, cognitivo, alimentando uma ilusão por meio de brincadeiras e, portanto um sonho que pode vir a ser realizado - e ficamos muito felizes quando ele se realiza - e, simultaneamente, levando o seu interesse em busca do prazer, encontrando, portanto, diversas possibilidades de usufruir o seu tempo com algo que lhe pertence, e que ele pode e deve usar na sua “realização pessoal”, esse homem é livre. Ora, o que é o prazer? Segundo Aristóteles, prazer é uma disposição constante conforme a natureza. Prazer vem do latim placere ou volupta. Ou seja, se é de natureza o tempo livre, portanto a possibilidade do descanso, da privação do trabalho, dos aborrecimentos sociais e, portanto da possibilidade do advento do lúdico que pressupõe o cognitivo, das realizações dos desejos, a ilusão e a busca da realização pessoal, há um lazer que origina um prazer. O prazer é o que priva de dores e sofrimentos e se enquadra na dimensão da vida afetiva, dos desejos e realizações espontâneas, livres de imposições de convivibilidade e de valores pré-estabelecidos, portanto por meio do prazer e do lazer há uma possibilidade de pensamento livre, de liberdade de escolhas. O lazer é o que caracteriza o prazer. Ora, mas, assim como é de nossa natureza sentir prazer, é de nossa natureza, também, se desmedir e/ou se desviar e, portanto se alienar a condições atuais, pois, como dito anteriormente, prazer é um hábito conforme a natureza, portanto é de nossa natureza se desviar do pensamento subjetivo e da liberdade, se aderindo a uma falsa liberdade, qual seja, uma enganadora permissão das coisas por meio de imposições ora sociais, ora políticas, ora históricas, ora econômicas etc. Ora, o lazer, segundo Littré, é um estado no qual é permitido fazer o que se quiser, livre no espaço/tempo das coerções e atrelamentos sociais. Ora, como se dá isso em nosso mundo? No nosso mundo, as pessoas não sabem o que fazer com o espaço/tempo livre, pois os seus espaços e, portanto tempos, estão atrelados à estereotipagem das classes sociais de força maior, sobretudo. Portanto há uma crise do que se fazer com o espaço/tempo, pois na nossa contemporaneidade as pessoas ficam aguardando que alguém determine o que se faça, ou seja, as pessoas não sabem mais se pôr no mundo do lazer e, portanto, não há possibilidade de prazer, pois o prazer requer lazer e o lazer privar-lhes-ia de imposições sociais. Ora, o lazer foi deturpado em detrimento do prazer, pois todos os lazeres da sociedade são em virtude de criações de classes sociais de força maior que criam um prazer alucinatório, qual seja, um prazer conforme a natureza, ou seja, em cima da natureza de seres que podem se desviar, se alienar, falhar com a subjetividade do pensamento e da liberdade desprovida de imposições. Ora, na questão do espaço/tempo, as pessoas os utilizam infinitamente com coisas de cunho alienatório e alucinatório, pois são todos em virtude de prerrogativas e ganhos de outrem. Portanto, há também na contemporaneidade uma crise na subjetivação. E a internet e seus meios de comunicação? Ora, a internet e seus meios, hodiernamente, é/ou deveria ser o alicerce da emancipação. No entanto, as pessoas isentaram-se do uso de conhecimentos e da difusão deles, por ela (internet) fornecida, e se alienaram a meios de relacionamentos improfícuos, como modismos e outras coisas frívolas e hostis impostas pela própria rede. Ora, qual é o lazer da internet, nesse ponto de vista, se o lazer é exatamente o que priva de atrelamentos, vanglória e prestação de serviços às redes sociais de força maior, qual seja, os detentores dos meios de comunicação virtual? Lazer e internet são inconciliáveis, nesse ponto de vista, pois a internet está privando as pessoas da subjetivação do pensamento crítico, pois está criando um tecido de afetividade alucinatória, porque possibilita rápida informação e inúmeras prestações de serviços, conquanto, em detrimento da análise e, portanto, da liberdade de pensamentos e escolhas. No livro: “The Shallows – What the Internet is Doing to our Brains” ou “No Raso – O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros”, o autor, Nicholas Carr, formado em literatura pela universidade de Harvard e jornalista, vai nos dizer que a internet, como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e aspectos da mente intelectual, mas, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes. Para tanto, alega que o número de pessoas que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas que haverá no futuro pessoas lendo tais livros. No entanto, essa prática está mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, ao invés de página impressa, pois a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento para encontrar informação rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas. Por outro lado, todos têm escolhas. Mesmo que essa desconexão se torne mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está na vida profissional e social, Carr vai dizer que a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo a dependência em relação às tecnologias e exercendo a capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa. Em outras palavras, para Carr, a internet produz cérebros sob medida para mentes superficiais, de modo que obrigue a pensar de forma ligeira e utilitária em detrimento das percepções, bem como a análise crítica, conceitual e minuciosa das coisas. A ingenuidade faz com que os jovens estudantes, sobretudo, acessem sites inseguros, recorram a conteúdos desatualizados e não saibam a diferença entre informações boas e ruins. Portanto, essa é explicação da crise subjetiva, cognitiva e, portanto, do lazer, pois nos adaptamos a imediatidade do mundo e a padronização das ferramentas impostas por alguns dominadores destes sites, sobretudo de relacionamentos. A internet, na verdade, possibilitou um acesso as coisas que, anteriormente, eram dominadas apenas pela sociedade do capital. Nesse sentido, a internet significou, para alguns, a “luta” para a emancipação, haja vista a progressiva redução nos lucros do mercado fonográfico devido aos downloads piratas entre tantas coisas. Podemos afirmar, então, que a internet possibilita a difusão de conhecimentos gerais, discussões entre povos, acesso às coisas antes restritas e, sobretudo, a possibilidade de organização dos povos para a busca dos direitos em detrimento da sociedade dominante do capital. No entanto, o maior problema que se tem é o da adaptação as coisas impostas, astuciosamente, pela sociedade do capital. A sociedade do capital, barbaramente, cria maneiras de persuadir as pessoas a se estereotiparem em ferramentas, alegando, falsamente, valores reais a estas, além de padronizá-las e limitá-las, no que concerne a expressões que contradizem e, portanto, ameaçam e comprometem as suas ações dominantes. E, além do mais, a sociedade majoritária “não” teve acesso, historicamente, a um cabedal de cultura e conhecimento necessário para resistir, criticamente, a essas padronizações e limitações. Entretanto, há um número considerável de pessoas que utilizam a internet como busca de emancipação através de blogs e outros meios, difundindo suas idéias e críticas ao público. Portanto, a questão da internet ainda é ambígua, pois por um lado ela tem um cunho libertador e por outro alienador. Ainda, portanto, estamos em uma reta de esperança, cujo seu ponto final é quem determinará o fim da “luta” entre sociedade do capital impositora e sociedade proletária sem direitos. “O mundo eletrônico não está de forma alguma estabelecido, e está na hora de tirar vantagem desta fluidez através da criação. Antes que nos reste apenas a crítica como arma.” (Distúrbio eletrônico, p. 33).

Jonathan Borges

Um comentário:

  1. eu jefferson gostaria de parabénizar a todos que fazem esse blog e o que o blog do jefersonaraujosouza deseja a todos

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