quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Tempo do não silêncio


Vivemos em um tempo absolutamente paradoxal. Outrora, podíamos ouvir os pássaros pela manhã, as árvores chacoalharem e sentir a pureza de um belo alvorecer. As ruas eram mais vazias, menos desenvolvidas e quase não se tinha tecnologia. Carros eram raros e o ar mais puro. Televisores eram inexistentes e, portanto quase não havia propagandas. Os avôs, tal quais as avós, contavam demasiadas histórias na varanda onde o cachorro adorava descansar nas belas tardes tranquilas. Brincar e correr na rua era alegria imensurável e balançar-se na rede do quintal era como estar cercado de um jardim florido. As músicas eram suaves e relaxantes e ouvia-se com pureza o som de harpas e pianos. Nada era mais gostoso do que ler um livro numa bela tarde de sol deitado na grama. Quando se tinha um talento na vila, esse era aplaudido, respeitado e referenciado. Ora, e o nosso tempo atual? Nosso tempo é absolutamente carente de prazer, de silêncio e, portanto de respeito. Tudo é muito barulhento, rápido, prático e inquieto. Não se ouve mais pássaros, árvores, músicas, ar etc., o que ouvimos são carros, aviões, brigas, músicas sem sentido e atordoantes, buzinas, em fim verdadeiros estrondos infernais. Não há mais possibilidade de se ouvir histórias das avós, pois os televisores, tal quais as novas tecnologias como a internet e suas particularidades, como apetrechos virtuais os substituíram. Livros são impossíveis de ler, pois existem demasiadas fábricas barulhentas amparadas pelos ávidos capitalistas, praças que mais parecem anexos de avenidas, escolas que mais parecem salão de festas, bibliotecas cercada por mercadões, ou seja, a cidade se transformou em um verdadeiro inferno. Outra agravante é que tudo deve ser imediato. A sociedade vive em constante e, talvez, eterna imediatidade. Tudo deve ser agora e não pode ser depois, pois o depois significa, nessa sociedade, o atraso. Para tanto, haja vista a avidez das pessoas, a partir do primeiro emprego ou não, para comprar carros, aparelhos eletrônicos, roupas de marcas, bem como casamentos e namoros indesejáveis, pois tudo parece estar atrasado, intolerável. Ou seja, é necessário que tenha essas coisas já, agora, pois existem pessoas que já têm e, portanto isso é intolerável e inadiável. Todas as referências e tradições se perderam e quem dita às regras são os mercados, quais sejam, mercados dos automóveis, das roupas internacionais, dos produtos de beleza, dos aparelhos eletrônicos, das músicas atordoantes, em fim todo o mercado financeiro. Não existem mais conversas com vizinhos ou parentes, apenas com os computadores e suas webcams. Os talentos que se tinham nas cidades foram absolutamente ignorados e agora só são prestigiados e vangloriados os talentos dos realities shows e os artistas musicais da mídia. Portanto, nosso tempo se plasmou em um tempo do anti-valor, pois não se reconhece mais valores e tradições, pois se perdeu o silêncio, a paciência, intolerância e tudo têm que ser conquistado imediatamente a qualquer custo, seja por guerras, gangues etc. A possibilidade do tempo do descanso também não existe mais, pois, ou as pessoas trabalham e estudam muito ou não fazem nada e ainda não tem tempo para nada, nem mesmo para descansar ou ouvir o silêncio. Portanto, fica estabelecida a importância do silêncio e do tempo da pureza, da calma e, portanto do prazer real.
Jonathan Borges

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