sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os funkeiros da lotação


Irei iniciar como uma simples pergunta: Por que 96%, ou mais, dos cobradores (as) de lotações, da cidade de Guarulhos, são funkeiros (as)? Gostaria de chamá-los, caros leitores, a refletir comigo. Primeiramente, vamos viajar um pouco na maionese. A sociedade jovem, sobretudo, está incapacitada de enxergar o quanto está sendo depreciada e desmerecida. A mídia e o marketing de algumas empresas privadas, detentoras de casas de shows, por exemplo, estão atreladas há muito tempo em um projeto de mobilização de jovens. O comercial que é feito nas principais rádios do Brasil sobre essas casas de shows é absurdamente imensurável. Praticamente 24h por dia só se fala em shows e promoções de ingressos. Tanto é assim, que fazem inúmeros sorteios de camisetas, CDs, ingressos, participação em camarins, entre outras coisas, diariamente, a fim de aumentar o público em suas controladas e diversas casas de shows. Ora, por quê? Certamente, e sem dúvida nenhuma, percebeu-se que esta é a maneira que mais dá certo no que pertence a quantidade de público jovem/consumidor. Mas, no entanto, isso não é o mais preponderante. Na verdade, as rádios (mídia) e os donos das casas de shows (donos da empresa/negócio), ganham público com a promoção de espetáculos absurdos, ou seja, quanto mais absurdas forem as apresentações melhor. Tanto é verdade esta afirmação, que se ouve infinitos nomes de participantes excêntricos, como Mc chupetinha, Mc Fulano Boladão, Mc creu, Mc piriguete, em fim, como dito anteriormente, quanto maior o absurdo do nome do pseudo-artista melhor, pois aumentar-se-á a vontade de participar do evento. Além disso, tem aquelas promoções de garotas sem calçinha, que até as três da madrugada não pagam ingresso, além da existência de promoções de vodcas, Red Bull, e por ai vai. Ora, mais o que me deixa mais intrigado é saber que essa diversão é uma maneira de alimentar os donos do capital em prejuízo da própria perda moral e da qualidade de vida. E ainda tem mais, os próprios donos das casas de shows contratam a polícia para que, ao final do baile, esses, dispersam essa turma por meio da pancada, pois o seu comércio corre o risco de ser interditado, devido os fuzuês que são cometidos nas ruas e nas casas, implicando, portanto, em grandes prejuízos para os empreendedores. O outro lado da história, e que poucos sabem, é que as rádios têm acordos com empresas de marcas estrangeiras com fábricas no Brasil, a fim da obtenção de lucros gritantes em ambas as partes. Por exemplo, as rádios dão oportunidades aos funkeiros para cantarem nas casas de shows dos empresários, com letras que defendem essas marcas, ou seja, letras que falam que malandro de verdade e que pega todas as mulheres é aquele que usa Oakley, Lacoste, Juliete etc., de modo que aumente, portanto, a venda destas, resultando, no final das contas, a repartição da grana, com grande alegria e festividade, apenas entre os donos do poder, mídia/empresa. Será que estamos conseguindo entender, juntos, até que ponto chegam as coisas? Espero que sim. Vamos continuar. Bom, considerando todas as informações acima citadas, podemos concluir parcialmente uma coisa: As roupas de marca e as músicas de funk só tendem a aumentar, ininterruptamente, cada vez mais, pois estas, são mostradas como super-valores de conquistas. E que conquistas seriam essas? São elas: status, muitas garotas e garotos, respeito na favela, votos nas comunidades do Orkut, bebidas incontroladas pelos amigos, entre inúmeras coisas. Pois bem, antigamente, os mais velhos, como pais, mães, tios e parentes em geral, ficavam revoltados e inconformados com essas atitudes dos filhos e sobrinhos. Não conseguiam, de maneira alguma, suportar os seus jovens sobrinhos e filhos usando brincos alargados, cabelos espetados, correntes gigantescas, piercing em tudo quanto é lugar, entre outras coisas, 24h e 365 dias no ano. Isso, para os parentes, desses jovens perdidos, era intolerável. Tanto é verdade, que muitos apanhavam de correias, ficavam fora de casa e até eram enviados para a FEBEM. Sem contar os atos desesperados de chamar padres, pastores e o diabo a quatro, para tentarem resolver a questão. E mais, quando esses jovens, e muitos deles, apareciam em casa com filhos, resultava, muitas vezes, em morte. E para completar, nenhum destes jovens queriam trabalhar, aliás, quando não queriam trabalhar, pois visavam viver como parasitas apoiados nos pais, não conseguiam arrumar emprego, pois as empresas os rejeitavam. Os únicos empregos possíveis eram, absolutamente, escravizadores, ou seja, de 10 a 14h por dia, sem direito a nada. Isso, para os jovens, era intolerável, pois implicaria deixá-los de sair às festas e shows promovidos pelas rádios. Diante deste cenário deplorável e praticamente irreversível, alguns pais e parentes, que por sinal, não viviam aquela vida que pedira a Deus, pois levavam uma vida simples no subúrbio, tiveram uma brilhante idéia, que até parece que foi combinada de tão certo que deu: “Vamos juntar forças e comprar uma van a fim de trabalhar com Lotação (transporte público), pois tiraremos os nossos filhos e sobrinhos das ruas e da vagabundagem para trabalharem conosco e, além do mais, muitos deles já tem filhos, esposas e casas de aluguel e, nós, não aguentamos mais sustentá-los”. E assim foi feito. As coisas deram tão certas que no decorrer do tempo os parentes deixaram as vans nas mãos dos sobrinhos e filhos, e esses colocaram seus filhos ou, quando não,seus colegas para a função de cobrador, obrigando, portanto, as pobres pessoas/passageiras de boa conduta ética escutarem as músicas de funk em vossos trajetos. Imaginem vocês o desconforto de uma pessoa que trabalhou o dia todo ter que passar cerca de 40 minutos ou mais escutando músicas falando de perversidades? Mas em fim, não é o caso. Continuemos. E os parentes, no fim das contas, acabaram, mesmo que alucinatoriamente, “marajás”, ou seja, só em casa esperando o dinheiro dos filhos ou sobrinhos, deitado em seus sofás, de meias nos pés e assistindo as novelas e programas boçais da Rede Globo e Record, sobretudo, em suas TVs de plasma de alta definição, compradas nas Casas Bahia, por sinal. E não acaba por ai. Os parentes exigem grande lucratividade e maior número de passageiros nos trajetos das lotações. Tanto é assim que observamos, diariamente, competições entre os grupos e/ou gangues de lotações. Eles usam transmissores Nextel para conspirar contra outras lotações. Sem contar com as clandestinidades na madrugada, aliás, penso que na clandestinidade da madrugada é onde eles ganham mais dinheiro, pois é nessa hora que a rapaziada, nos finais dos shows, pegam o transporte e, afinal de contas, os funkeiros das lotações são amigos do peito da rapaziada que frequenta casas noturnas. Ora, agora que já entendemos mais ou menos como os funkeiros das lotações são humilhados e prejudicados pela mídia, empresas e, absurdamente, pelas famílias, vamos a parte final desta reflexão. Os funkeiros de plantão, além de não enxergarem essas atrocidades, as tratam com a maior naturalidade e despreocupação do mundo. Os salários que os parentes dão a eles, quando não é o da fome se tornam inútil, pois eles (funkeiros) não sabem utilizar o dinheiro adequadamente. Ora, o que eles fazem com o dinheiro? Eles vão às lojas da Oakley, Lacoste e Juliete e pagam fortunas em roupas, bonés, tênis, correntes e brincos e deixam as crianças sem o leite. Estão achando um absurdo? Pois é, mais é exatamente assim como acontece. Pois bem, continuemos, está quase acabando. E tem mais, agora a moda é pegar as garotas que saem da escola e pegam as lotações nos diferentes horários, quais sejam, manhã, tarde e noite, e encher o mundo de filhos de funkeiros. Nesses trajetos ocorrem trocas de Messenger e Orkut e, absurdamente, quanto mais funkeiro e irresponsável forem o cobrador e o motorista, mais status eles terão com as garotinhas, afinal de contas elas são tão funkeiras quanto eles. Este ciclo se faz infinito, pois as garotas nas escolas divulgam os funkeiros das lotações, os funkeiros das lotações divulgam as garotinhas das escolas entre eles, ambos se reúnem aos finais de semana nas casas de shows dos empresários e das rádios, as bebidas rolam a solta, vários filhos, futuros funkeiros e funkeiras de lotações, vão surgindo, e os donos das empresas, rádios e alguns parentes maldosos vão enriquecendo. Conseguiram entender? Se não, leiam novamente até entenderem, pois isso é extremamente sério. Se sim, ficam as perguntas: Quem são os reais prejudicados da história? Vale a pena investir infinitamente no funk? Essa eu não posso responder, portanto deixarei para os que leram até aqui. Forte abraço!

Jonathan Borges

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